Neemias Félix
O Livro dos Salmos é uma bela coletânea de
cânticos e orações atribuídos, na sua maioria, a Davi, rei de Israel. O título
em hebraico é Tehilim, que pode ser
traduzido como Louvores. Esses poemas
deveriam ser entoados e acompanhados de instrumentos musicais, como se pode ver
nas indicações e orientações que aparecem antes do seu início.
Como
já foi mencionado, os salmos não têm apenas um autor. Davi contribui com 73
deles, mas os de Asafe (12), os dos filhos de Coré (12), os de Salomão (2), os
de Hemã, Etã e Moisés também aparecem. Sem falar nos 48 de anônimos que dão sua
preciosa colaboração ao mais belo livro da Bíblia.
É
de se supor, portanto, que não foram produzidos por uma casta especial de
clérigos ou artistas profissionais com registro na AMASI (Associação dos
Músicos e Artistas Santos de Israel), e isso nos séculos de chumbo do Velho
Testamento, em plena vigência das leis do Antigo Pacto.
Aonde
quero chegar com essa conversa, você, na certa, já adivinhou. Todos esses
salmos são belíssimos e não há nada contra recitá-los de memória ou fazer a sua
leitura nas mais diversas reuniões. Os compositores podem usar toda a sua
criatividade para reescrever, parafrasear, revigorar esses poemas, numa
releitura de ritmos e harmonias as mais diversas, dando-lhes uma cara nova,
contemporânea. Já é um grande passo. Porém não deixarão de ser os salmos de Davi, os salmos de Asafe e de outros.
Creio
que o que Deus quer de nós é o nosso
próprio salmo. Alguém pode argumentar que isso já existe e citar como
exemplo a quantidade de músicas na enorme fatia de mercado que se abriu com a
descoberta do mundo gospel (meu
teclado às vezes falha quando aperto o i).
Não me refiro a isso. Refiro-me ao salmo do cristão comum, do irmãozinho que
não quer ou não pode gravar um CD góxpel; falo da gente simples que labuta
no seu dia a dia, mas que sente, pelo tocar do Espírito, o desejo de dizer o
que lhe vai no coração. Esses são os que deveríamos estimular. Afinal, não
somos mestres em fazer a clássica distinção entre oração e reza? Lendo apenas os salmos de Davi não estaremos
também apenas rezando, numa litania
belíssima, mas que tem pouco a ver com a nossa própria vida atual e pulsante?
Concluo,
pois, fazendo o que pouquíssimos líderes fazem, que é incentivar os cristãos
comuns, músicos ou não, poetas ou não: ore a sua oração, escreva o seu próprio
poema, com qualidade artística ou não. Reunião de cristãos não deveria ser
sarau da ABL, palco do The Voice ou coisa que o valha.
Em
poucas palavras: faça seu próprio salmo.