domingo, 13 de julho de 2014

FAÇA SEU PRÓPRIO SALMO

Neemias Félix

O Livro dos Salmos é uma bela coletânea de cânticos e orações atribuídos, na sua maioria, a Davi, rei de Israel. O título em hebraico é Tehilim, que pode ser traduzido como Louvores. Esses poemas deveriam ser entoados e acompanhados de instrumentos musicais, como se pode ver nas indicações e orientações que aparecem antes do seu início.

Como já foi mencionado, os salmos não têm apenas um autor. Davi contribui com 73 deles, mas os de Asafe (12), os dos filhos de Coré (12), os de Salomão (2), os de Hemã, Etã e Moisés também aparecem. Sem falar nos 48 de anônimos que dão sua preciosa colaboração ao mais belo livro da Bíblia.

É de se supor, portanto, que não foram produzidos por uma casta especial de clérigos ou artistas profissionais com registro na AMASI (Associação dos Músicos e Artistas Santos de Israel), e isso nos séculos de chumbo do Velho Testamento, em plena vigência das leis do Antigo Pacto.

Aonde quero chegar com essa conversa, você, na certa, já adivinhou. Todos esses salmos são belíssimos e não há nada contra recitá-los de memória ou fazer a sua leitura nas mais diversas reuniões. Os compositores podem usar toda a sua criatividade para reescrever, parafrasear, revigorar esses poemas, numa releitura de ritmos e harmonias as mais diversas, dando-lhes uma cara nova, contemporânea. Já é um grande passo. Porém não deixarão de ser os salmos de Davi, os salmos de Asafe e de outros.

Creio que o que Deus quer de nós é o nosso próprio salmo. Alguém pode argumentar que isso já existe e citar como exemplo a quantidade de músicas na enorme fatia de mercado que se abriu com a descoberta do mundo gospel (meu teclado às vezes falha quando aperto o i). Não me refiro a isso. Refiro-me ao salmo do cristão comum, do irmãozinho que não quer ou não pode gravar um CD góxpel; falo da gente simples que labuta no seu dia a dia, mas que sente, pelo tocar do Espírito, o desejo de dizer o que lhe vai no coração. Esses são os que deveríamos estimular. Afinal, não somos mestres em fazer a clássica distinção entre oração e reza? Lendo apenas os salmos de Davi não estaremos também apenas rezando, numa litania belíssima, mas que tem pouco a ver com a nossa própria vida atual e pulsante?

Concluo, pois, fazendo o que pouquíssimos líderes fazem, que é incentivar os cristãos comuns, músicos ou não, poetas ou não: ore a sua oração, escreva o seu próprio poema, com qualidade artística ou não. Reunião de cristãos não deveria ser sarau da ABL, palco do The Voice ou coisa que o valha.

Em poucas palavras: faça seu próprio salmo.