Neemias Félix
É interessante como o ser humano é contraditório em
assuntos relacionados com a eternidade.
Tenho conversado com pessoas para as quais a ideia
de Deus, eternidade, céu e inferno passa de largo, é algo tão abstrato, tão
fantasioso como os contos de fada. Outras preferem viver e agir com uma autossuficiência
espantosa, guiadas pelos seus conceitos particulares sobre bem e mal, uma
justiça própria inconsistente diante da mais simples análise, na contramão de
qualquer senso comum de ética e moral.
Outras mais, em atitude mais grave, perpetram os
mais terríveis crimes, corrompem e são corrompidas, blasfemam, zombam dos
cristãos porque estes oram, louvam, adoram, leem a Bíblia, reúnem-se com outros
irmãos e tentam, com a ajuda do Criador, levar uma vida reta, estar mais
próximos de Deus. Para aqueles, os cristãos são muito ingênuos, românticos,
carolas, quando não ignorantes, alienados pelo “ópio do povo”, que é a
“religião”.
A maioria delas, entretanto, por incrível que pareça,
sempre pensa numa outra vida mais confortável que esta, com um Deus amoroso e
longânimo que de alguma forma vai acolhê-las num “bom lugar”, o que significa
que, a seu modo, elas pensam no céu, mesmo que de forma vaga e nebulosa. E são
exigentes: “Como pode um Deus, que é amor, enviar alguém para o inferno? Isso
seria uma injustiça, uma contradição.”
E é exatamente nisso que reside a maior contradição,
não de Deus, mas dessas pessoas. Se pensarmos no reino do céu e de Deus como
algo que começa no coração do ser humano e, portanto, aqui nesta vida, é fácil
presumir que o céu é, ressalvadas as devidas proporções, um prolongamento da
vida que levamos aqui. Noutras palavras: a vida eterna, para o cristão, começa
aqui.
Por isso, o cristão verdadeiro não terá nenhum
problema de “adaptação” na eternidade do céu, já que começa a vivê-lo aqui
nesta dimensão. Para os que já estão sem essa intimidade com Deus e Seu modus vivendi, será muito difícil e até constrangedor viver no
céu. Ficarão, na certa, desconfortáveis, sem lugar. Por essa razão é que Deus,
justiça seja feita, não manda ninguém
para o inferno. As pessoas é que escolhem viver lá. Afinal é o
prolongamento da vida que levaram aqui neste mundo. Nunca poderão reclamar de nada,
porque sempre puseram Deus de lado. Nunca quiseram que Ele fizesse parte de sua
vida, de seus planos, como farão isso no céu? Nunca tiveram intimidade com Ele
por meio da oração, como serão seus amigos? Nunca o louvaram aqui, como o
louvarão lá? Nunca se submeteram a Ele, como aceitarão Seu reinado lá? E Deus,
que dotou o ser humano do livre-arbítrio, respeita isso.
Para eles, o céu será um péssimo lugar.