Neemias Félix
Esta é uma história real.
Meu irmão, Maninho, trabalhava no escritório de um posto de molas. Certo dia, ao pagar a conta, um cliente deixou, por engano, uma nota de cinquenta reais no meio de outras. Meu irmão só percebeu o equívoco minutos depois, quando o caminhoneiro já havia desaparecido pela estrada afora. Tomou, entretanto, o cuidado de guardar a cédula que, à época, era a de maior valor emitida pelo Banco Central.
Coisa de um ano depois, o caminhoneiro volta ao posto de molas para novo conserto. Meu irmão o identifica imediatamente, informa-o sobre a nota deixada por engano e, ao mesmo tempo, a devolve ao seu verdadeiro dono.
O caminhoneiro, homem de muitos anos de estrada, recebe a nota de volta enquanto enceta o seguinte diálogo com meu irmão:
- Rapaz, como é bom saber que existem ainda pessoas honestas como você. Estou impressionado com o seu cuidado em guardar a nota por tanto tempo para me devolver, quando eu nem mais me lembrava dela.
Meu irmão diz baixinho que era apenas a sua obrigação. O caminhoneiro continua:
- Isso me faz lembrar um velhinho que era fiscal da prefeitura na altura de Rio do Norte, a uns vinte e poucos quilômetros daqui… Olha, lá se vão mais de trinta anos e eu jamais o esqueci. Que homem honesto! Ali todo mundo recebia propina, menos ele. Um exemplo de honestidade e correção que guardo com carinho na minha memória.
Meu irmão, visivelmente emocionado, mal consegue responder:
- Pois saiba o senhor que aquele velhinho, o seu José Félix, como era conhecido, era o meu pai…
(Há uma lágrima insistente querendo cair aqui enquanto escrevo. Tenho que terminar, com licença…)