Neemias Félix
Creio que todo aluno reclama de certas matérias aparentemente
desnecessárias que estuda na escola. Quantos já não fizeram a célebre pergunta
que eu também fiz, principalmente nas aulas de Matemática: “Por que eu tenho
que estudar isso? Será que vou precisar dessa matéria no futuro?”
Para quem pensa assim, e até como homenagem a meus
antigos professores, como Nílton do Carmo Guerra e Eldo Valneide Vichi, entre
outros, conto a seguinte história que me aconteceu quando já estava alguns anos
longe dos bancos escolares.
Acostumado a jogar bilhar numa mesa com 10 bolas,
sabia que a partida era ganha quando um dos jogadores fazia 28 pontos primeiro,
já que o outro só poderia atingir 27 de um total de 55, soma de todos os pontos
das bolas da mesa, numeradas de 1 a 10.
Um dia, porém, meu cunhado e eu, ao entrarmos no
antigo “Bar do Rafael”, que ficava bem em frente ao campo do Industrial,
deparamo-nos com uma mesa de sinuca enorme, que tinha não 10, mas 15 bolas.
Doidos para jogar, pegamos afoitos nossos tacos. Como o Rafael estava enfurnado nos fundos do
bar procurando sei lá o que, ficamos ali, tacos em punho, com cara de
abestalhados, tentando calcular a quantidade de pontos de todas aquelas 15
bolas.
Exercício chato e desnecessário, não é? Afinal, era
só esperar o Rafael chegar e teríamos a resposta em um segundo.
E foi o que fizemos. A resposta do dono, depois da
demora nos fundos do bar, foi rápida: “Ora, são 120 pontos. Ganha quem fizer 61
primeiro. Vocês não sabiam?” Como saber? Nunca tínhamos jogado bilhar num
sinucão daquele tamanho, com tantas bolas! E não estávamos ali pra ficar
fazendo esses cálculos tolos, ora essa!
Ao chegar a casa, corri direto ao grosso livro de
Matemática, dos tempos do Eldo. E a fórmula estava lá, quietinha, mas eficaz:
S=(a1+an)n:2. Na verdade, as 15 bolas do jogo de sinuca, formavam a famosa PA
(progressão aritmética), em que o S
representa a soma de todos os termos; a1,
o primeiro termo, ou bola 1; an o
último termo, ou bola 15; e n, o
número de termos, também 15. Tudo isso dividido por 2, chega-se ao número 120,
que esperamos tanto tempo para começar a jogar! Um cálculo fácil e de poucos segundos, não?
Meditabundo, lá pela meia-noite fiquei então
refletindo na importância da Matemática para a nossa vida prática. E constatei
que mesmo aquilo que parece não ter nenhuma serventia no dia a dia pode nos
surpreender a qualquer momento e evitar assim um esforço desnecessário, como o
de ficar somando, bola por bola, todos os pontos das bolas de bilhar.
Esse fato tem mais de 30 anos e até hoje não esqueci
a fórmula da soma dos termos de uma PA, o que para um professor de Português é
uma grande vitória.
Os mais experientes têm razão: saber nunca é demais.
E, realmente, não ocupa lugar.
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