terça-feira, 5 de agosto de 2014

SURPRESAS DA MATEMÁTICA

 Neemias Félix

Creio que todo aluno reclama de certas matérias aparentemente desnecessárias que estuda na escola. Quantos já não fizeram a célebre pergunta que eu também fiz, principalmente nas aulas de Matemática: “Por que eu tenho que estudar isso? Será que vou precisar dessa matéria no futuro?”

Para quem pensa assim, e até como homenagem a meus antigos professores, como Nílton do Carmo Guerra e Eldo Valneide Vichi, entre outros, conto a seguinte história que me aconteceu quando já estava alguns anos longe dos bancos escolares.

Acostumado a jogar bilhar numa mesa com 10 bolas, sabia que a partida era ganha quando um dos jogadores fazia 28 pontos primeiro, já que o outro só poderia atingir 27 de um total de 55, soma de todos os pontos das bolas da mesa, numeradas de 1 a 10.

Um dia, porém, meu cunhado e eu, ao entrarmos no antigo “Bar do Rafael”, que ficava bem em frente ao campo do Industrial, deparamo-nos com uma mesa de sinuca enorme, que tinha não 10, mas 15 bolas. Doidos para jogar, pegamos afoitos nossos tacos.  Como o Rafael estava enfurnado nos fundos do bar procurando sei lá o que, ficamos ali, tacos em punho, com cara de abestalhados, tentando calcular a quantidade de pontos de todas aquelas 15 bolas.

Exercício chato e desnecessário, não é? Afinal, era só esperar o Rafael chegar e teríamos a resposta em um segundo.

E foi o que fizemos. A resposta do dono, depois da demora nos fundos do bar, foi rápida: “Ora, são 120 pontos. Ganha quem fizer 61 primeiro. Vocês não sabiam?” Como saber? Nunca tínhamos jogado bilhar num sinucão daquele tamanho, com tantas bolas! E não estávamos ali pra ficar fazendo esses cálculos tolos, ora essa!

Ao chegar a casa, corri direto ao grosso livro de Matemática, dos tempos do Eldo. E a fórmula estava lá, quietinha, mas eficaz: S=(a1+an)n:2. Na verdade, as 15 bolas do jogo de sinuca, formavam a famosa PA (progressão aritmética), em que o S representa a soma de todos os termos; a1, o primeiro termo, ou bola 1; an o último termo, ou bola 15; e n, o número de termos, também 15. Tudo isso dividido por 2, chega-se ao número 120, que esperamos tanto tempo para começar a jogar!  Um cálculo fácil e de poucos segundos, não?

Meditabundo, lá pela meia-noite fiquei então refletindo na importância da Matemática para a nossa vida prática. E constatei que mesmo aquilo que parece não ter nenhuma serventia no dia a dia pode nos surpreender a qualquer momento e evitar assim um esforço desnecessário, como o de ficar somando, bola por bola, todos os pontos das bolas de bilhar.

Esse fato tem mais de 30 anos e até hoje não esqueci a fórmula da soma dos termos de uma PA, o que para um professor de Português é uma grande vitória.

Os mais experientes têm razão: saber nunca é demais. E, realmente, não ocupa lugar.


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