quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O CRISTÃO PODE BEBER?

Neemias Félix


Para a pergunta acima, a resposta é rápida, curta e definitiva: Pode, mas não deve.


O tema é mais que polêmico e seria interessante, não necessário, desenvolvê-lo em uma monografia. Não em apenas uma ou duas laudas e muito menos na linha do tempo do Facebook.


Ainda assim, exponho aqui meus argumentos e conselhos carinhosos, desenvolvidos em pontos e observações, com base no que aprendi na minha experiência de mais de dez anos de alcoólico ativo (hoje sou passivo, não bebo há 34 anos), cinco de A. A., algum conhecimento da Bíblia (já a li mais de uma dezena de vezes) e quase trinta de vida cristã. Sem falar, é claro, nas  leituras e mais leituras especializadas com seus prós e contras e muitas horas de oração e meditação (inclusive a meia hora antes de escrever este texto).


Em relação aos termos do título, esclareço que beber refere-se a qualquer tipo de bebida alcoólica, seja uma simples cerveja, seja outra bebida forte, capaz de trazer algum dano ao bebedor ocasional ou contumaz. Quanto ao termo cristão, refiro-me àquele que teve uma experiência de conversão genuína a Jesus Cristo e procura segui-lo com perseverança, ainda que pecador e sujeito às falhas e pecados que certamente vai cometer no decorrer da sua vida. Não se trata, portanto, de alguém apenas ligado a uma instituição cristã, ou seja, o religioso a que costumamos chamar de cristão nominal.


Uma observação: a generalização é normal e necessária, principalmente em textos curtos,  e este, definitivamente, não é um tratado científico ou teológico. É desnecessário, portanto, o “há exceções”. Ora, toda generalização pressupõe exceções e, objetivamente, ninguém escreve para falar delas.


Vamos aos pontos, observações, enfim, o que penso sobre o assunto:

1. Aos que ainda não sabem, informo que sou um cristão não ligado a nenhuma instituição ou denominação. O que penso, portanto, não é uma opinião sectária, exclusivista. Reúno-me com outros cristãos informalmente, numa igreja dita caseira, simples, orgânica, e meu compromisso é unicamente com Jesus Cristo, meu Senhor e Senhor da igreja. Por isso mesmo, não carrego rótulo nem tenho a mínima pretensão de fazer proselitismo.

2. Não sou juiz de ninguém (nem Jesus foi, enquanto pisou esta terra), não pretendo e nem teria poder de condenar ao inferno aquele que bebe discreta e moderadamente um copo de cerveja ou uma taça de vinho no chamado recesso sacrossanto do seu lar.
                                                                                                                                                                 3. Também eu (eu disse eu), não me escandalizo em ver um cristão fazendo isso (nas condições acima). Jamais vou considerá-lo, apenas por isso, um cristão de menor qualidade ou um sujeito menos santo que a maioria. Sei que há outras atitudes que também podem revelar o caráter, enfim, a vida do cidadão cristão. ENTRETANTO (e aqui entra o pode, mas não deve), na sequência, apresento boas razões para o cristão não beber, ainda que moderadamente.

4. Não  é  conveniente.  Ora, o que  não  é  conveniente, não  “pega  bem”;  o que  não “pega bem”, não é bom; o que não é bom não deve ser praticado. Veja que não citei nenhum versículo bíblico,  mas  se  você se  diz  cristão, deve saber ao que me refiro,  certo? Caramba (desculpe, isso  também  não está  na  Bíblia!),  se   pessoas   sem  nenhum  compromisso com Jesus  abstêm-se  da  bebida, é  demais  pedir  isso a você?!  Acho um absurdo alguém levantar argumentos bíblicos a favor de  certas práticas,  se  não é capaz de assimilar aquelas mais comezinhas do senso comum!  Isso  deveria ser tão  simples  como não apoiar
os cotovelos na mesa ou não palitar os dentes após as refeições…

5. É  preciso  fugir  da aparência  do mal. Acho  essa  orientação  do  cidadão  de Tarso mais radical do que do que a anterior. Fugir,  não  apenas  do  mal   em si mesmo, mas  de  tudo aquilo que parece ser  mal. Que  zelo,  que preocupação com os tessalonicenses, não é? Isso é amor, para evitar um mal maior.
          
Apelo  outra  vez  ao  senso  comum.  Os  pais  comuns,  que  nunca  leram  uma  Bíblia, que nunca  frequentaram  uma  EBD,   falam  carinhosamente: “Meu filho, cuidado  com  as pessoas  com  quem  anda;  veja  lá  o que você vai fazer; veja como se  comporta; observe os lugares  aonde vai!”  Meu Deus, - pergunto  com carinho - é preciso disparar um monte de versículos para alguém entender isso? Senso    comum  puro,  dispensado   pela   Graça Comum  do  Pai do Céu!  Até aqueles que muitos chamam  de “ímpios” entendem  isso. Você não?  Desculpe outra  vez, mas  se  a  nossa justiça não for superior à dos fariseus e escribas...

6. Testemunho cristão e escândalo. Não  duvide do desencanto, da decepção que um ex-dependente de álcool sente,  nos  seus  primeiros  tempos de sobriedade, ao  ver um irmão na fé  tomar  um  único  copo de cerveja  ou de vinho. Já  vivi  e presenciei  essa  cena  e asseguro  que, a alguns,  ela  pode  causar  escândalo (leia-se “pedra de tropeço”) e arrefecimento espiritual.

7. Testemunho cristão e lei. A resolução de  trânsito atual   praticamente  adotou a tolerância zero em relação à bebida. Imagine um cristão dedicado apanhado no teste  de  bafômetro, ainda   que  seja  pela  necessidade   inesperada  de  levar alguém  a  um  hospital,  na falta
de um motorista mais  “capacitado”.   Imaginou o papelão?  Agora imagine se houver um acidente, uma morte…


8.  Alcoolismo e estatística. Poucos sabem que o alcoolismo é catalogado como doença pela Organização  Mundial  da  Saúde.  Ela  atinge cerca  de  10%  da população. Sabe o que é isso? Então imagine se  conseguíssemos reunir, em algum lugar do Brasil, 250 Maracanãs cheios de alcoólicos. Eu disse duzentos e cinquenta Maracanãs cheios de dependentes, só brasileiros. Isso equivale à população da Romênia, duas Bolívias ou todo o estado de Minas Gerais!
             
Agora, o pior:  como o   infeliz  adoece  porque  tem  uma predisposição para a doença, sendo ela progressiva e  incurável, ninguém sabe se vai ser alcoólico ou  não, quer dizer,  só se  pode  detectá-la  com  segurança depois de  algum tempo que a  pessoa  começar a beber. Em outras palavras, uma  pessoa  que  bebe  socialmente hoje  pode  ser um alcoólico daqui a  três, quatro anos.  Não seria  prudente  que filhos oriundos de famílias que têm antecedentes alcoólicos nunca  tomassem  uma  única  gota  de  bebida?  É  bom  pensar nisso… Pode acontecer com você!

O  alcoolismo  não   perdoa  ninguém:  pobres,  ricos,  ateus  ou  cristãos.  Nas minhas andanças pelos grupos de A. A., vi  padres,  pastores,   bispos,  atores famosos, secretários de estado, capitães, majores e até generais dependentes dessa droga. Ouvi o testemunho de um bispo que não  tomava nem o vinho  da missa por causa da compulsão; e o de  alguém famosíssimo  que  evitava  até as balas de licor de que gostava tanto!


9. Para as objeções:  Há  quem  desconsidere  todos  os  argumentos  acima e prefira objetar: “Jesus tomava vinho”, ou “a Bíblia não condena  explicitamente o beber, apenas  o embriagar-se”, ou  ainda,  “tomar  refrigerante,    exagerar nos doces   e   comer   em excesso também   fazem  mal”.   Não  nego  isso. Ainda  assim,  além    de   todas  as   observações   e dados  que  apresentei acima, gostaria  que considerasse  o seguinte:
               
Quanto  ao  comer  em  excesso e às guloseimas, apesar do prejuízo pessoal, acho quase impossível alguém atropelar uma pessoa por causa da alta taxa de colesterol ou ser  multado no trânsito por hiperglicemia.

Cuidemos então do nosso  Salvador (e que Ele nos perdoe a pretensão):  Em primeiro   lugar, você   não  é Jesus. Em  segundo, Jesus   também  pregava, curava,  ressuscitava mortos, caminhava  sobre  as  águas e morreu na cruz. Por que você não o imita nisso? Em terceiro, já pensou no que representava o  vinho  para  a  gastronomia, a tradição, a  simbologia, enfim, seu peso de significado  para a cultura  judaica?  Teria   ele  o mesmo  significado  que  a bebida   alcoólica   para  a   nossa   cultura    ocidental   e,  principalmente, a brasileira, ainda mais nas circunstâncias em  que é  usada?  Pode  imaginar, realmente, Jesus  e  seus apóstolos,  hoje,  aqui  no  Brasil,  tomando  umas geladas   numa  roda  de   amigos, enquanto   um  médico,  na TV,  discorre sobre  as   pesquisas  mais   recentes a respeito  os malefícios  do  álcool, um inspetor  da  Polícia   Rodoviária  Federal  mostra  um  motorista pego no  teste  do  bafômetro  e  uma  mensagem  dos  Alcoólicos  Anônimos  diz “Evite o primeiro gole”?


Bem, se depois de tudo o que leu, você ainda acha que não há problema em beber moderadamente,  quem   sou  eu  para  gastar mais tempo do que já gastei  para  tentar convencê-lo do contrário. Desculpe, eu só quis  ajudar. Só espero que daqui  a  algum  tempo você  também  não  ache que “só  um tapinha não faz mal”. Em qualquer dos sentidos que quiser dar a essa frase...


     
         
   
            
       

           

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