quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O CLÉRIGO (Neemias Félix)

Poema vencedor do 23º Prêmio Moutonnée de Poesia 2013 (Salto, SP)
e segundo lugar no Prêmio Campos do Jordão de Literatura 2015 (SP)

Fechado em sacros paramentos sacos 
lá vem o clérigo 
Na tonsura, o súcio, o circo
- cisão que sobe vinda do prepúcio?
único heliponto da lisura?
De roupa escura lá vem o cura
Já falou latim ao povo tartamudo, mudo
e a  voz piedosa dosa a intenção maldosa
Quem TV no colarinho em V nada vê
O clérigo
tem mitra, báculo e barrete
e canta, é claro, que em falsete
É cleptomente
e rouba o sacerdócio de todos os crentes
O clérigo não se entrega, intriga e migra
reforma, transmuda e, num instante
renasce em berço e rito protestante
lembrando priscas eras e filacteras
Na língua em pano, em fato domingueiro
velha batina, hábito romano
O clero agora em tom tão evangélico
adora a distinção e os privilégios
ostenta títulos e engendra sortilégios
Enquanto o Mestre se despe, o clérigo veste mais
se enfuna e inflama em vestes clericais
O microfone em riste é poder e assalto
e ocupa sempre lugares mais altos
O clérigo é mais que ativo, é corporativo
Ameaçado, saca este penhor
não alce o braço contra o ungido do Senhor
A tradição que trai sempre insepulta
o odre novo e fresco catapulta
sufoca e acalma a torpe turbamulta
Um lema tem e não faz isso a esmo

que é mudar sempre pra ficar no mesmo

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